Tuesday, May 20, 2008

Razão, Sensibilidade, Ipod

Doava 10% do salário à instituições sociais confiáveis e eficientes, devotara noites inteiras à busca por absolvição, mas era culpado, reiteradamente culpado. Até ali, aprendera apenas a evitar situações que o levariam a novos lapsos e a novas culpas. Proibiu-se de circular por várias calçadas em determinados dias e horários. Em algumas, como as calçadas próximas à Sé, estava terminantemente proibido de pôr os pés.
Em algumas calçadas, como as da Paulista, sentia-se mais seguro e inofensivo. Especialmente agora, que ali nascia uma calçada de primeiro mundo, moderna, com rebaixamentos perfeitos para cadeirantes, sinalização adequada, piso preparado para receber tanto o sol quanto a chuva tropical. Hoje, todavia, foi na Paulista que sucumbiu.
Saiu para almoçar e uma senhora bem aparentada lhe pediu um real para comer. Desnorteou-se. Num gesto envergonhado, pôs a mão na carteira e, ao tirar uma nota de um real, a senhora, rápida e profissionalmente, informou que ele poderia dar mais. Automaticamente, deu-lhe cinco.
Passado o choque, parado naquela calçada com “nível de investimento”, o politicamente correto Alberto, ciente de nossa gritante desigualdade social, mas revoltado com que o chama de indústria da caridade ineficiente cristã, se perguntava: como trafegar entre as brasileiríssimas faltas crônicas de dinheiro e de vergonha? Como fugir dos pólos opostos e delituosos da insensibilidade social e da idiotia burra e conivente?
Decidiu comprar um ipod.

1 comment:

Anonymous said...

what?????
what happened to this blog being completely in english? i protest against the discrimination happening here, you old language-nazi!
request for immediate translation or my next 10 emails to you will be in german!