
Em algumas calçadas, como as da Paulista, sentia-se mais seguro e inofensivo. Especialmente agora, que ali nascia uma calçada de primeiro mundo, moderna, com rebaixamentos perfeitos para cadeirantes, sinalização adequada, piso preparado para receber tanto o sol quanto a chuva tropical. Hoje, todavia, foi na Paulista que sucumbiu.
Saiu para almoçar e uma senhora bem aparentada lhe pediu um real para comer. Desnorteou-se. Num gesto envergonhado, pôs a mão na carteira e, ao tirar uma nota de um real, a senhora, rápida e profissionalmente, informou que ele poderia dar mais. Automaticamente, deu-lhe cinco.
Passado o choque, parado naquela calçada com “nível de investimento”, o politicamente correto Alberto, ciente de nossa gritante desigualdade social, mas revoltado com que o chama de indústria da caridade ineficiente cristã, se perguntava: como trafegar entre as brasileiríssimas faltas crônicas de dinheiro e de vergonha? Como fugir dos pólos opostos e delituosos da insensibilidade social e da idiotia burra e conivente?
Decidiu comprar um ipod.